Dois atos de estupidez

▬▬▬▬▬▬▬▬▬PRIMEIRO ATO▬▬▬▬▬▬▬▬▬

Éramos nós dois. E havia prateleiras, um corredor estreito, música e as pessoas estavam distantes. Então ela avançou ao meu lado bloqueando o caminho com um braço dizendo:

– Você vai me beijar agora.
– Não! Não aqui desse jeito…
– Porque não?

E era uma pergunta curiosa de se responder. Pois estupidamente me despertava um certo ódio em ser amado novamente. Uma ironia, talvez pela amizade entre nós posta em risco, ou talvez por algo que eu não mais conhecia.
Mas agora havia uma mão explorando minhas costas. E havia uma boca indolente pintada de rosa sussurrando no meu ouvido. E a proximidade de um caminho sem volta.

– Preciso saber se somos apenas amigos.

E assim um breve beijo se deixou roubar. Houve um eternidade num mísero segundo, uma confusão, e eu a empurrei de mim.
Pingos de sangue de quatro dedos cortados foram arremessados no corredor, na prateleira e na minha camisa.

– Ai! seu idiota!

▬▬▬▬▬▬▬▬▬SEGUNDO ATO▬▬▬▬▬▬▬▬▬

A observava envergonhado enquanto ela caminhava a minha frente sem parar de me xingar. Sentou-se mantendo a mão ensanguentada pra cima e com a outra vasculhou a bolsa. Instantes depois retirou de lá um band-aid.
Sentei ao seu lado, peguei o curativo e comecei a limpar o sangue.

Como vou fazer minha maquiagem amanha?

Não pude segurar o riso. Ela se manteve séria e eficaz no trabalho de me xingar. E continuei rindo porque sentia vontade de faze-lo desde que ela tirou uma caixa de curativos da bolsa, me surpreendo as vezes com o que elas carregam lá.
Interrompendo as injúrias falei.

– Quatro dedos. Vai ver é um sinal.
– Só se for dos quatro filhos que vamos ter.

Silêncio. Um silencio doloroso pra mim. Mais do que dedos cortados, mas a dor de sonhos que se acabaram.
Pronto o curativo e aquela boca indolente se aproximava outra vez.

– De novo porque eu não senti direito…

E já não foi mais breve.

2 pensamentos sobre “Dois atos de estupidez

  1. Hum, interessante este, ainda não havia lido coisas tuas assim… Mostra bem do que vc é capaz, rapaz, rs!

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